A necessidade do cotidiano e a vontade de expressar-se independente de outrem, despertou em Júlio Abdala a habilidade de transformar madeira em objetos: “Tudo que vejo posso fazer”, diz o artesão. Com o tempo especializou-se em contornos e voltas, dando origem às cabeças, seios e quadris de suas bonecas. Rodeado de toda criatividade do dia-dia dos moradores do Pelourinho, Júlio preserva seu atelier e moradia nas antigas construções ao lado da escadaria do Passo.

As madeireiras mais próximas fornecem o princípio de tudo, pedaços de paus retangulares, finos e dispensáveis. Em um processo linear, ferramentas e matéria prima no chão, um banquinho para sentar e uma grossa madeira de apoio é base pro trabalho se iniciar. Com a caneta o artesão desenha um corpo, nada muito minucioso, apenas um esboço. Mas, com martelo, facão e um pouco de barulho a madeira vai ganhando forma até a primeira curva de mulher surgir. Das rudes batidas, uma delicada silhueta nasce. Com a lixa e ajuda dos pés, as formas são suavizadas. Inesperadamente as queimam da cabeça aos pés e o maçarico atribui o bronzeado à falsa pele, resultando num preto que faz tudo tomar jeito. Já coradas, a mesma mão que com muita força antes esculpiram, faz um minucioso trabalho com o pincel, pouco a pouco as nascidas moças recebem pingos de tintas coloridas, uma por uma, vestindo-as na parte de baixo do corpo. Este, sem rosto, só diz que podem ser de qualquer lugar, porque pra quem antes eram apenas pedaços de paus, já formaram a idéia de seu criador e ganham vida nas decorações de todos os espaços.

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Luanda Cora

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Luara Barreto