Sabe-se que lugares únicos podemos encontrar sempre e quase inexplorados.Com a Borracharia foi assim: pouco explorada em sua pluralidade visual e um lugar onde há vida preto e branco, mas também colorida. As pessoas que a compõe de dia não são as mesmas que agitam por lá à noite, desenhando sua diversidade e principalmente, criatividade por parte do seu idealizador, que passou a utilizá-la como bar, tornando-a ponto alvo de diversão de um público alternativo e amante da música dos anos 80. É facilmente observável nesse lugar a presença do ausente, uma força imaterial que o concretiza, seja através da fé perdida, dá pureza roubada, de alguém que se foi ou até pelas músicas que já não ouvimos mais. É essa atmosfera etérea que constitui a Borracharia. Sua própria estrutura se dá de maneira inusitada: seu dono ou ‘decorador’ recebe doações de pertences da cidade, lixo urbano, fazendo sua coleta seletiva e reconfigurando as funções desse material.

É por esse motivo que ela atrai pessoas durante todo ano, incluindo curiosos ansiosos por registrarem sua peculiaridades. Num lugar como esse onde convergem pessoas de todas as classes e estilos e objetos de todos os gêneros –como um escafandro, por exemplo- que é possível perceber que tudo deve ser revisto, reavaliado. Não podemos deter as nossas impressões para sempre, menos ainda as primeiras. Não julgue uma borracharia pela porta.

Tâmara Gonçalvez

2005.2